Burocracia: organização, formalização, hierarquia, impessoalidade, separação entre público e privado.
É de se esperar que Brasília, centro do poder do país, seja povoada pela burocracia. Dizem que o povo daqui adora uma fila e é verdade. Dizem também que às vezes as pessoas extrapolam a burocracia e se valem dos seus cargos para obter benefícios, o que também é verdade.
Mas o traço realmente marcante pra mim, nesta cidade, é como a burocracia se infiltrou nos relacionamentos. As pessoas parecem se comportar sempre como se estivessem no ambiente de trabalho, tamanha a formalidade e distância. Quem tenta se aproximar, é mal visto. E mesmo quebrada a barreira inicial, quase impenetrável, a burocracia se estende às relações interpessoais.
Pra marcar alguma coisa com um amigo, por exemplo, existe todo um rito administrativo. É um tal de ligar, mandar mensagem para confirmar que vai ligar, ligar novamente para confirmar o envio da mensagem, agendar hora e local, confirmar presença, ligar ao sair de casa, ligar quando chegar no local. Não me surpreenderei se um dia precisar fazer um requerimento pra marcar um boteco com uma amiga. Requerimento carimbado e em três vias, lógico.
Sinto falta do improviso em Recife, da esticada não planejada, da falta de protocolo. Espontaneidade não combina com formalidade. É claro que não vamos sair por aí invadindo ruas, campos e cidades, espalhando amor nos corações. Mas largar um pouco esse peso da impessoalidade e relaxar faria bem pra todo mundo.
O problema é que eu tô com preguiça dessa burocracia íntima. Preguiça de preencher requerimento e solicitar deferimento. Aí prefiro sair sem amigos. E acho triste dispensar amigos. E nem sei se eu posso agir assim, pode ser que para dispensá-los eu deva preencher a solicitação de dispensa de amigos burocráticos. Carimbada e em três vias.
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