quarta-feira, 2 de maio de 2012

A burocracia dos relacionamentos

Burocracia: organização, formalização, hierarquia, impessoalidade, separação entre público e privado.

É de se esperar que Brasília, centro do poder do país, seja povoada pela burocracia. Dizem que o povo daqui adora uma fila e é verdade. Dizem também que às vezes as pessoas extrapolam a burocracia e se valem dos seus cargos para obter benefícios, o que também é verdade.

Mas o traço realmente marcante pra mim, nesta cidade, é como a burocracia se infiltrou nos relacionamentos. As pessoas parecem se comportar sempre como se estivessem no ambiente de trabalho, tamanha a formalidade e distância. Quem tenta se aproximar, é mal visto. E mesmo quebrada a barreira inicial, quase impenetrável, a burocracia se estende às relações interpessoais.

Pra marcar alguma coisa com um amigo, por exemplo, existe todo um rito administrativo. É um tal de ligar, mandar mensagem para confirmar que vai ligar, ligar novamente para confirmar o envio da mensagem, agendar hora e local, confirmar presença, ligar ao sair de casa, ligar quando chegar no local. Não me surpreenderei se um dia precisar fazer um requerimento pra marcar um boteco com uma amiga. Requerimento carimbado e em três vias, lógico.

Sinto falta do improviso em Recife, da esticada não planejada, da falta de protocolo. Espontaneidade não combina com formalidade. É claro que não vamos sair por aí invadindo ruas, campos e cidades, espalhando amor nos corações. Mas largar um pouco esse peso da impessoalidade e relaxar faria bem pra todo mundo.

O problema é que eu tô com preguiça dessa burocracia íntima. Preguiça de preencher requerimento e solicitar deferimento. Aí prefiro sair sem amigos. E acho triste dispensar amigos. E nem sei se eu posso agir assim, pode ser que para dispensá-los eu deva preencher a solicitação de dispensa de amigos burocráticos. Carimbada e em três vias.

sábado, 21 de abril de 2012

Saudade das palavras fugidias

Tem sido difícil escrever neste blog e, embora ninguém tenha reclamado a falta, eu às vezes me questiono sobre o porquê de tanta dificuldade.

Eu poderia dizer que o tempo dos blogs passou, mas não seria verdade. Vejo blogs muito bons e constantemente atualizados, que são a prova de que essa forma de interação está muito longe do esgotamento.

Eu poderia dizer que não tenho tempo, mas não é bem assim. Gasto boa parte do meu tempo livre em inutilidades (ou nem tanto) nas redes sociais.

Pode ser que eu já não queira me expor tanto... mas, bem, eu não preciso me expor para escrever num blog, afinal, há tantos assuntos circulando pelo mundo.

Posso alegar que escrever num blog já não me causa o mesmo prazer e isso, sim, é um pouco verdade. Mas não toda a verdade.

Escrever num blog requer esse momento de afeto com as palavras, quando elas fluem naturalmente e se acomodam, felizes, num texto qualquer, por mais simples que seja. As pessoas lêem e se contaminam pelo prazer diluído ali entre frases e pontos, o texto cresce, vira assunto. O blog cumpre seu papel.

A verdade é que as palavras têm fugido do meu alcance, o sono tem chegado sempre tão cedo, quase não consigo mais ruminar, a vida é que vai ditando o ritmo, às vezes lento, às vezes frenético, de quem eu sou.

Mas não é bem assim, eu preciso mastigar vida e vomitar palavras, e sinto falta quando isso não acontece. Ter um blog é como ter um tempo para cuidar da vida. Não só da nossa, mas também de como percebemos a vida ao redor de nós. E eu sinto falta disso.

 Tem sido difícil escrever neste blog, mas eu preciso.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A medida do Bonfim


Começo com a música do Chico por causa da última frase dessa música

E A LEVE IMPRESSÃO DE QUE JÁ VOU TARDE...
Coisa de quem sabe a hora de ir embora. E se tem uma das coisas mais depreciativas no ser humano, é não saber a hora certa de vazar (como dizemos em Recife).

Sim, isso mesmo, falo dos ex, das ex, dessas pessoas que passam pela vida dos outros e acham que ganharam o direito de ficar por usucapião. 

E se tem uma demonstração de falta de respeito pela vontade do outro é insistir que TEM que ficar na vida da pessoa, por que nunca esqueceu, por que SABE que é a pessoa certa pro outro, por que...

Vencer pelo cansaço não é legal. Claro que tem um grau de energia a ser usado para lutar pelo outro em momentos de crise. Mas daí a passar meses, anos ou mesmo uma vida inteira pedindo pinico pro outro... ou então transformar tudo em roteiro de Atração Fatal e cozinhar um coelhinho na panela do outro.



Ah não, há mais vida pra se viver. E que medíocre seria a vida se nossa felicidade dependesse apenas de UMA, uma única pessoa. Não, a vida não é tão pequena.

Por isso, antes de se tornar um fardo para o outro, olhe em volta e analise as possibilidades. Não só de relacionamento - de paisagens, de trabalho, de música, de vida. Tudo transpira possibilidades. E o outro, bem... o outro segue com as possibilidades dele.

Se ainda assim, depois de olhar em volta, você continua achando que é melhor ficar rodopiando em volta do outro, feito muriçoca na hora de dormir, então só me resta um conselho, se é que conselho serve pra alguma coisa:

SE MATA!

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Bora cair na vida?

Bora. Parece simples, "cair na vida". Algo como mergulhar, ou se atirar, ou um gesto quase acidental. 

Bora lá, a vida tá aí fora, só esperando o nosso passo adiante.

Que nada. É tanta exigência pra cair na vida, que às vezes da preguiça.

Tem que estar inserido no mundo do trabalho, assalariado, cumpridor das responsabilidades. Mas não é só isso, tem que ter um lugar confortável para morar, descansar, receber os amigos. Ah sim, os amigos. Tem que ter uma penca deles, fazer parte de um grupo, fazer coisas juntos e ter fotos sorridentes para guardar. Pois é, tem que guardar também alguma reserva, quem sabe planejar um bom investimento para o futuro. E, ó, o futuro... alguns filhinhos para que a linhagem prossiga e por que todo mundo te cobra que você tenha herdeiros, pois a vida continua. A vida - tem que curtir, mas tem que ser engajado também, defender uma causa, lutar pelo que acredita. E acreditar em algo - Deus, Buda, Mãe Menininha, ter fé, ou ser ateu e defender publicamente essa posição, pra mostrar uma boa argumentação.

E a nós, mulheres, cabe ainda saber o segredo da eterna juventude, estarmos sempre lindas e sedutoras, escolher bem o que usar em cada ocasião.

Cansada... é que depois de assistir Hipermulheres, eu fiquei me perguntando o que é mesmo cair e o que é mesmo vida, esse eterno construir e destruir.

E a pergunta não é "bora cair na vida", mas "em que vida você quer cair?"

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Pergaminho (texto de 2007 que eu esqueci de publicar)


Uma multidão curiosa rapidamente cresceu enquanto aquele pergaminho enrolado caía lentamente dos céus, quase flutuando, como se fosse mais leve que o seu peso real, transgredindo a olhos vistos a Lei da Gravidade. Quando finalmente chegou ao chão, a multidão assombrada viu que estava lacrado com uma fita vermelha que dizia: A/C representante da Santa Igreja mais próxima.

Chamaram o padre da cidade, um alvoroço, afinal, não é todo dia que uma mensagem dos céus chega tão rápida e diretamente aos pobres mortais, desorientados e perdidos no próprio mundo que criaram. O padre, entre nervoso e lisonjeado por ser o porta-voz de mensagem tão importante, abriu a mensagem rapidamente, sem querer irritar a multidão ansiosa.

O que dizia:

“LEIA EM VOZ ALTA:

O Mestre pede que se acrescente mais um aos sete pecados capitais criados pela Santa Igreja. É verdade que às vezes os enunciados que tratam desses pecados parecem letra morta, tamanha o esforço dos homens em praticá-los sem preguiça. Mas o Mestre exige que a errata seja publicada e que todos os escritos que tratam do tema sejam retificados, para sua honra e glória.

Diz o Mestre:

1. Não tens sidos zelosos em evitar os pecados em vossas vidas. Eu havia dito apenas que o mal é o que sai do homem, tal como Pepeu confirmou. A Santa Igreja enumerou pecados capitais, mas não leves a mal, foi só uma tentativa de vos orientar.
2. Digo-vos agora qual é o maior e o mais mortal desses pecados: a caretice. Ainda que não tenhais cometido todos os outros pecados, será a caretice a vos condenar até o fim dos tempos.
3. Em verdade, em verdade, vos digo: os caretas carregam consigo e transmitem aos seus toda a infelicidade decorrente de sua caretice. Espalham mentira, hipocrisia, moralismo, violência e idéias retrógradas. Só por isso, eles não entrarão no Reino dos Céus.

Eis o recado do Mestre. Publique-se.

Ass: Mateus.

PS: parem de colocar meu nome em tantos meninos que nascem. O Reino de Deus pertencem às criancinhas, mas meu nome não é casa de mãe joana, não. :X”


 

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Só os Sims são felizes

Pra inaugurar este blog, nada como esticar conversa sobre o meu mais novo vício na internet: The Sims Social. 



Pra explicar a uma amiga como funciona (e é difícil pra quem está de fora entender esse joguinho do Facebook), tentei descrever o básico sobre o que acontece lá: alguém trancado numa casa, comprando coisas e trabalhando (em casa) para ganhar mais dinheiro.

(se quiser ter uma idéia das casas mais impensáveis que as pessoas constroem, recomendo ir aqui)

Claro, esse alguém é solitário, pero no mucho. Sempre é possível interagir com a vizinhança, trocar afagos ou insultos. Os relacionamentos podem evoluir para relações amorosas com - dizem - a possibilidade de rolar inclusive um séquissuzinho entre os sims mais chegados.
Pra minha sims, até agora, o máximo de intimidade foi na banheira.
Tudo tem seu tempo.

O universo paralelo de The Sims Social me faz esquecer um pouco as obrigações aqui fora. Mas também carrega um pouco de tudo o que eu sou: meus livros, muitos; a ânsia de escrever; a pouca vaidade; e a pressa típica de quem é ansiosa (dei poderes especiais para a minha sims andar mais rápido).

Eu me divirto com os comentários dos vizinhos, com cada nova aquisição, com o progresso econômico de minha Robéria (nome da criatura que eu criei lá). Daí, quando me dou conta, passaram-se algumas horas que eu deveria ter dedicado ao estudo. No início do fundo do poço, atualmente, adicionei meu primeiro desconhecido apenas para aumentar a vizinhança.

Por isso, eu digo:
se tiver responsabilidades e metas apertadas para cumprir na vida real, nem chegue perto - é um *vício que te consome* (ótimo mote para uma música brega).

E digo mais:
se tiver responsabilidades e metas apertadas para cumprir na vida real,use The Sims para não enlouquecer, pois as obrigações são vícios que nos consomem.